quinta-feira, 24 de março de 2011

Mais um mero sonho

Novamente, um pequeno entreterimento aos que ainda frequentam este humilde blog.
Acabo de acordar. Tive um sonho, não sei se minha imaginação moldou-o de alguma forma ou foi assim me entregue pelos Deuses.
Havia um hotel cujo o dono era um senhor e sua esposa, ambos já com seus 60 anos. Lembrando agora, não era tão luxuosa: tinha dois quartos para alugar. Não tinham muitos clientes mas sobreviviam com os que apareciam.
Um dia, eis que surge um jovem cabeludo observando o casebre. É prontamente recebido. Ele escolhe o quarto com uma cama de casal confortável e de decoração de um vermelho pálido.
De noite, começam as exigências. Ele desejava conversar no quarto sem precisar de usar o telefone do Hall. É colocado um em seu quarto e a senhora passa a anotar suas ligações para cobrar depois.
Queria sua cama coberta de pétalas, depois que fosse trocada a roupa de cama velha. A iluminação era muito fraca para suas necessidades. Desejava um filtro de água particular...
Eram tantos desejos que os donos demoraram 3 dias para atender a todos.
Descansavam depois de muito trabalhar, perplexos com aquele exigente jovem cabeludo. Imaginavam se ele teria dinheiro para lhes pagar quando ele interrompe seus pensamentos abrindo ruidosamente a porta de seu quarto.
"Este quarto é muito pequeno."
Foi transferido para o outro cômodo onde havia uma cama de solteiro, uma decoração levemente azul e o dobro do espaço. Ele parecia feliz. Mas não ainda satisfeito...
No final de mais 3 dias, o novo quarto já constava com duas camas - a de solteiro era muito pequena mas era bonita; duas televisões, dois telefones, uma mini-cozinha com pia, minibar e forno, dois quadros...
Um monte de regalias exigidas pelo menino que fazia os velhos correrem para todo lado buscando atendê-las. Até um tapete o quarto adquiriu.
No sétimo dia tudo se acalmou. Os velhos descansaram e o menino nada exigiu. Pensando que finalmente tivessem agradado o cliente, depois de montar os quartos mais luxuosos possíveis, começaram a calcular os lucros que deveriam ter.
Iam tratar das diárias assim que o menino saísse do quarto. Desejavam saber como iam receber a conta absurda que ele havia acumulado. Não haviam questionado antes porque pensavam que alguém que exige tantas coisas, como aquele jovem, com certeza tem condições para pagar.
Mas ele não saiu do quarto. Fora as televisões, não se ouvia mais nada.
Dpois de muito hesitar, com o intuíto de evitar cobrar mais um dia sem antes tratar da semana, o dono do hotel e sua esposa resolveram bater na porta. Não houve resposta.
Preocupados, gritaram. Somente o som metálico da caixa brilhante os respondia.
Sentiam medo do calote, de serem passados para trás, de não terem condições de arcar com as dívidas adquiridas para montar todo o luxo para o menino.
Com esse medo no coração, resolveram abrir a porta. Usaram uma cópia da chave.
As duas televisões estavam ligadas, cada uma em um canal diferente, mas em um som tão inaudível que quase parecia um diálogo mudo entre as duas figuras mostradas. Tudo permanecia impecávelmente luxuoso, como se os objetos mal tivessem sido usados. A coloração do quarto era um azul escuro porque a cortina estava fechada. Somente um freixe de luz adentrava e iluminava o quarto. Mais do que isso, iluminava algo especifico. Direcionava-se, quase que intencionalmente, para a cama. Exatamente no rosto do hóspede. Um rosto sem vida e careca.
O menino parecia dormir, mas seu corpo inerte estirava-se na cama com uma expressão ao mesmo tempo serena e melancolica. Uma peruca estava ao chão, próxima à cama. Em cima da mesa, um bilhete:
"Gostaria de agradecer imensamente e pedir desculpas ao casal que aqui me acolheu, sem perguntar-me nada. Eu queria viver, nem que fosse por um dia, como um rei. E eles me deram isso. Meu médico disse que teria uma semana de vida, mas, ainda assim, o pessoal da quimioterapia não queria que eu saísse de lá. Eu não queria, não podia morrer em um hospital, simplesmente lamentando minha dor. Eu fugi.
Juntei todo meu dinheiro e comprei uma peruca. O resto, dou aos donos do hotel. Não sei se será o suficiente para pagar minhas despesas e por isso peço desculpas. Por todo trabalho que dei. O médico acertou, cada dia me sinto pior e imagino que hoje será o último. Já despedi de meus amigos e parentes. Deixo aqui o telefone para que venham buscar-me. Posso ir em paz, pois uma vez na vida consegui o que queria, sem sofrer preconceito. Muito obrigado."
Debaixo da carta, estava o dinheiro. Mas o casal não o contou. Não mais pensavam na falência. Não pensavam em nada. Choravam, simplesmente. Fecharam a porta e deixaram o menino descançar lá, por mais um dia, sem nada cobrar.

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