Um velho senhor, de uns 60 talvez embora aparentasse mais, caminhava tranquilamente num belo parque, sábado à tarde. Caminhada tranqüila, sem preocupação, sem objetivos ou desejos, sem esperança de encontrar algo no fim da rota.
Caminhava talvez para apreciar o cenário, talvez sua velha não gostasse que fumasse em casa, talvez tenha saído apenas para não fugir da rotina de dar uma volta todo sábado ou para fugir da rotina de ficar em casa.
Por qualquer que fosse o motivo da caminhada fato é que não havia nada o esperando do outro lado do caminho, mas caminhava, e sereno, tranqüilo. Tão desconhecido era o que se pensava.
Num dos pontos do parque avistou um garoto, provavelmente tinha uns 7 ou 8 anos, sentado sozinho num banco do parque olhando para o horizonte. Estava bem trajado, não parecia ser “criança de rua” e também não parecia estar triste. O velho achou estranho, na sua época crianças dessa idade eram sempre cheias de energia e estavam sempre animadas e exaltadas, quando não chorando, o que faziam, também, de uma forma intensa e barulhenta, mas nunca paradas tão pouco sozinhas.
O velho aproximou-se:
-Que faz sentado ai sozinho menino?
-Esperando.
-O que espera?
-Nada, só estou esperando.
Nesse exato momento o velho estranhou-se por não ter achado tola e sem sentido a resposta do garoto. Olhou nos olhos do menino e sentiu algo que não sentia há muitos anos: nostalgia. Não sabia por que, mas ao ouvir a resposta simples do menino o velho sentiu uma estranha nostalgia, que não o recordava nenhum momento em especial. Talvez uma vida.
A face enrugada tomou uma aparência serena, talvez lhe parecesse até mais jovem. O velho sem mais nenhuma palavra sentou-se com um pouco de dificuldade, apoiando as mãos ao banco ao lado do garoto, deu um suspiro de alivio e cruzou as pernas como se faziam os homens de respeito da sua época. Tirou um par de óculos e um livro de bolso da parte interna do paletó, ajeitou os óculos no rosto, e abriu o livro na primeira página.
Pós do autor: "A chave da interpretação não reside no objeto estudado, mas nos olhos de quém estuda."
Breno Juliano
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