Antes de começar o texto eu queria só deixar clara a estrutura básica dos meus textos, que são mais didáticos comparados aos do Heitor, que têm em geral um caráter mais literário. Enfim, espero que gostem.
Para falar de sistema devemos primeiro definir o que é. Sistema(ê): s. m. Conjunto de princípios verdadeiros ou falsos reunidos de modo que formem um corpo de doutrina. (Dicionário Priberam). Vamos compará-lo então à uma corrente. Assim como o sistema a corrente é formada de elos interligados cuja função é prender algo, ou seja, manter sob ordem. O que então seria “manter sob ordem”? Falamos aqui do sistema que rege a humanidade no mundo contemporâneo. Gosto de dividi-lo em três sistemas, três correntes, independentes que impõe, ou propõe a ordem na sociedade.
São estes os sistemas: o Sistema Social, que engloba todas as regras ou conceitos de cunho moral, ético, político e cultural; o Sistema Capitalista, que controla as relações econômicas e de caráter consumista, e que na minha opinião é o mais sutil, sendo também o que mais tange a sociedade e o mais difícil de fugir; e o Sistema Religioso, que impõe conceitos na população seguindo uma linha espiritual dividindo o “bem” e o “mau”.
Falemos então do Sistema Social. Concordo com Locke quando este diz que a sociedade depende de rédeas para manter-se em ordem. Imagine uma nação anarquista, o espaço individual ia ter interpretações diferentes segundo cada homem, e esse conflito de conceitos morais iria gerar caos, por isso então precisamos de uma voz superior para estabelecer um senso comum sobre o espaço individual. Mas agora entramos na questão da racionalidade individual. Respeitar sistema é diferente de se tornar escravo de tal. Ser escravo do sistema social é achar que a sua vida é o que o sistema social emprega, o que infelizmente acontece com a maioria das pessoas, mesmo sem saberem. Por exemplo, está nas entrelinhas do Sistema Social que um cidadão tem que crescer moralmente, estudar, se formar, se casar, constituir família e aposentar. Não está imposto oficialmente em nenhuma lei ou decreto, mas está tatuado na testa da sociedade. Um homem que segue esta linha de vida (quase sempre sem ter noção que está sendo escravizado) recebe, de cara, mais respeito socialmente. Por que este homem não é julgado então pelo seu caráter? A resposta é porque a sociedade quer crescer às suas custas, ela quer crescer com o seu crescimento, quer que você cresça para ela. Façamos uma analogia. Imagine um ponto de partida (a origem da sua vida) mais a frente imagine uma bifurcação, dois caminhos. O da direita leva à sua felicidade, como já disse Aristóteles, que é o objetivo final de qualquer ação; e o da esquerda leva à evolução da sociedade. O Sistema Social quando impõe paradigmas como o citado anteriormente, quer fazer você pegar o caminho da esquerda e ainda por cima dar uma carona para a sociedade, levando ela nas costas até o final, onde ela vai evoluir ao seu esforço. Não quer dizer, porém, que você não vai viver feliz seguindo o caminho da esquerda. Um homem pode chegar aos seus 80 ou 90 anos ao final da vida e pensar “Estou feliz. Estudei, trabalhei, me casei, e constitui família. Posso morrer em paz.”, mas costumo ver essa felicidade como uma felicidade de certo modo “artificial”. Não é o seu desejo natural que está sendo realizado, mas uma concepção de felicidade que foi moldada em sua mente pelos padrões sociais.
Outra analogia para ilustrar a situação: Imagine uma garrafa qualquer de vidro, coloque terra no interior dela e uma semente e regue com freqüência. Nascerá uma planta, até os primeiros momentos de vida ela não é tangida diretamente pelo sistema, mas ela vai crescer. Essa planta vai crescer e nascer porque têm condições para isso, ela recebe nutrientes do solo, água e a luz do sol. Mas a partir de um momento ela será apertada pelas paredes da garrafa, e depois que a planta já estiver grande, mesmo que você quebre a garrafa, ela continuará no formato da garrafa. Acontece o mesmo com um “escravo do sistema”, ele cresce sendo moldado pelas paredes (padrões) do sistema sem saber, pois não teve distinção intelectual para conhecer o mundo fora da garrafa.
Falando de novo sobre a diferença entre quem vive e quem respeita o sistema. Quem vive o sistema é o escravo, que sem saber, acha que os moldes do sistema são os moldes do seu próprio caráter e da sua própria vida. Respeitar o sistema é ser ciente que a sociedade existe e funciona graças a ele. É saber que pelo fato da maioria da população tender a ser escravo, tal população necessita do sistema para viver em ordem. Mas isso não significa que os paradigmas que o sistema estabelece têm que ser os da sua própria vida. Por exemplo, se o sistema diz que é falta de educação arrotar alto, você não precisa obedecer quando está sozinho. Partindo para um exemplo mais radical, se o sistema diz que é errado usar drogas e você não concorda, você não usa em público para respeitar o sistema, ou seja, em simples palavras, não incomodar as pessoas que você sabe que têm os padrões do sistema como padrões da própria vida. E por isso o Sistema Social é necessário, porque tais pessoas, que são maioria, não tem o mesmo nível de racionamento individual para definir os próprios conceitos de certo e errado.
O primeiro texto sobre Sistema termina aqui porque eu tenho aula amanhã cedo e já estou com sono hahaha XD. No próximo texto vou falar mais sobre meus conceitos de sistemas. Queria deixar bem claro que não quis fazer nenhuma alusão ao uso de drogas, só tentei usar um exemplo mais impactante para deixar o raciocínio mais claro. Abraços, até a próxima.
Breno Juliano.
Bastante interessante o texto.
ResponderExcluirA palavra "Racionamento" é a distribuição controlada de recursos, e bens e serviços escassos. O racionamento controla o tamanho da ração, a porção dos recursos de uma pessoa sendo distribuidas em um particular dia ou tempo.(wikcionário)
Nao creio q possa ser usada como sinônimo de discernimento. XD
Me chamou atenção também o trecho: "mas costumo ver essa felicidade como uma felicidade de certo modo 'artificial'. "
Poderia explicar melhor como seria uma felicidade artificial?
Para mim essa parte artificial não faz parte da felicidade, sendo somente uma máscara que esconde as frustrações pessoais (e uma pessoa q a usa não é feliz, portanto não teria uma felicidade artificial, mas um artifício para esconder sua infelicidade). Mas, apartir do momento que o velho de 90 anos sente-se satisfeito por ter ajudado o sistema, não creio que sua satisfação seja de algum modo artificial. Toda a vida dele pode ter sido uma ilusão, mas ele não sabe disso, ele sente somente a sensação pura de bem-estar e para mim é o bastante para que seja considerado "feliz".
Como vc disse, existem pessoas que dependem desse sistema, logo, seria natural que existissem pessoas que sentissem prazer em ajuda-lo a crescer emprestando as forças de sua vida, não acha?
Um abraço
Falae Solon!
ResponderExcluirTambém acho que o bem-estar nesse caso, é pela ignorância. Mas não é felicidade. Quem vive toda a vida preso nas correntes do sistema não pode ser feliz de verdade. Há uma satisfação porque a vida valeu à pena, herdou dois filhos, constituiu uma família e hoje tem uma casa, um sítio e um carro.
Mas acredito que a felicidade, ou a vida eudaimônica, como diria Aristóteles, só é alcançada com a liberdade.
Valeu!