Um pequeno tributo à arte de comer, que hoje tem sido banalizada pelo fast food e ignorada como uma forma de renovação do ser que cria um momento de deleite e harmonia.
Diante do homem havia um prato de comida colorido. Todas as cores. Sua comida preferida e engordurada estava neste prato bem como as verduras que detesta mas tem de comer. Era um prato belo, bem distribuido e rico em todos os nutrientes.
Oh que felicidade do homem, poderia ter para si tudo aquilo! Começou a comer avidamente. Conforme suas garfadas descompassadas e suas mordidas incertas devoravam o prato, tudo mudava. A gordura molhava o alface e o palmito misturava-se no arroz.
Oh, mas havia uma luta! Tudo que era quente no prato queimava e ardia a boca do homem e este logo garfava a salada que molhava e gelava sua lingua! Mordia um osso duro com firmeza para então sugar o néctar de um suco com brandura! E no prato via-se isso! Toda uma batalha para chamar atenção do homem, para faze-lo escolher aquilo e não aquilo outro na proxima garfada. A harmonia do prato já não havia, tudo era comida e uma comida que brigava pela atenção.
Não seria um homem se não quisesse tudo. Ele dançava com a música de seus sentidos. Sentia o frio para se aquecer. Sentia o ardor para poder se refrescar. Tudo aquilo que estava no prato o fazia sentir e dessentir. Seu espírito na mais pura harmonia dançava transitando entre as garfadas e as mordidas.
Imagine qual foi o espanto do homem ao perceber, quando quase já não havia comida, que a harmonia do prato havia desaparecido! Que todo aquele belo e preparado prato fazia agora parte de uma massa imensa dentro de seu estomago! Qual teria sido o espanto dele ao perceber que havia sugado toda a harmonia e que ao fim do prato, terminara também sua harmonia por entre os sentidos?
Este homem sentiu-se perturbado, não queria de forma alguma que o prato perdesse sua imensidão de cores e nutrientes. Foi então que fechou os olhos e desejou. Desejou arduamente, pediu a todos os deuses e deusas que não tivesse feito aquele prato bonito desaparecer. Desejou tão fortemente que quebrou todas as barreiras da física e da luz. Percebeu-se diferente. Deixou de sentir aquela angustia, sentia-se harmonizado. Abriu os olhos. Viu que era um bife em um prato.
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Haha muito bom! Você é o autor?
ResponderExcluirPode se dizer que sim. Eu não sei quem me deu inspiração, mas coloquei ela nessas palavras. =P
ResponderExcluirMuito bom. Acho que consegui captar a profundidade e a intençao do texto.
ResponderExcluirSoooolon! nooossa, adorei os textos! e ainda tenho aquele q vc escreveu pra mim na aula de bio...adoro ele! ta escrevendo bem demais!! parabens!!
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